3 de agosto de 2006

Conflito do Médio Oriente IV

Mal estalou a guerra entre Israel e o Hezbollah, apareceram, prontos a importá-la do Médio Oriente, numa azáfama de procura de informações, não nas fontes independentes, mas nas que, de alguma maneira, podiam fundamentar as suas opiniões há muito feitas. São colunistas da imprensa diária e hebdomadária e são também blogueiros dos vários quadrantes políticos e, principalmente, os que costumam afirmar-se freelancers. Rapidamente tomaram partido por um dos beligerantes e, munidos de toda uma vasta panóplia de conhecimentos, afinal a mais intimidadora arma dos intelectuais, desataram a brandi-los contra aqueles que decidiram eleger como inimigo. À falta de guerra verdadeira no seu (nosso) território, aproveitaram o acontecimento para provocarem a das palavras. Tal como, mais justificadamente, os soldados e civis directamente atingidos por ela, mostraram todo o seu maniqueísmo, fazendo uma perigosa aproximação aos princípios mais fundamentalistas e ortodoxos que, com inquietação, observamos no palco dos acontecimentos. À maneira de crianças birrentas, acusam-se mutuamente da realização dos maiores e piores massacres. Não eles, claro, mas aqueles a quem uns apoiam e os outros se opõem. Chamam os números, socorrem-se da estatística, apelam a novas e irrefutáveis provas das suas afirmações. Levados pela exaltação das palavras que utilizam, demonstram, de forma aterradoramente leviana, um total desrespeito pelo sofrimento alheio e pela vida humana. Mostram-se rancorosos, vingativos, ressentidos e até, teoricamente, sanguinários. Identificam-se, finalmente, com os deuses de um e outro lado da fronteira israelo-libanesa. Deuses construídos à escala dos sentimentos mais mesquinhos do género Homo. Acredito que estas pessoas nunca passaram por uma situação de guerra, não conhecendo, assim, o inferno da irracionalidade, das emoções ferozes, dos gestos selvagens, da impotência e do medo. Culturalmente evoluídos, apesar da insuficiente qualidade do uso e da aplicação dos seus conhecimentos basicamente livrescos, mostram, no calor da retórica, o que na verdade são: pessoas emocionalmente desequilibradas e muito malformadas!

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