19 de fevereiro de 2007

Braga setecentista: uma paixão proibida.

Em 1789, uma paixão proibida ligou duas famílias da fidalguia bracarense, tendo levado à intervenção de última instância da própria soberana, a Rainha D. Maria I.
A história contada por Alberto Feio em Coisas Memoráveis de Braga, Diário do Minho, edição de 17 de Maio de 1955:

14 de Maio de 1789.

Vítima dos seus amores, segue sob prisão para Lisboa o fidalgo bracarense Francisco Jácome de Sousa, primogénito do senhor da Casa do Avelar, João Luís Jácome de Sousa Pereira de Vasconcelos.


O fidalgo de Infias, Pedro Borges Pacheco Pereira tinha, de sua mulher D. Sebastiana Pereira Malheiro, quatro filhas casadoiras. A mais velha, com 27 anos, D. Maria Rosa, a segunda D. Ana José Maria, com 25 anos, e duas mais novas. Tinha-as ciosamente em apertado recolhimento em sua casa, quase como em clausura, o que não obstou a que Francisco Jácome se enamorasse da D. Ana, que afectuosamente lhe correspondia.


Solar de Infias

Descoberto o namoro pelo pai da rapariga, tratou de internar todas as filhas no Convento das Ursulinas. Estas freiras tinham vindo havia pouco para Braga, ocupando o antigo Colégio de S. Paulo, no Largo de Santiago, vago pela expulsão dos Jesuitas no tempo de Pombal.
Tinham como obrigação sustentar um colégio para educação de meninas.
Como as filhas de Pedro Borges eram já de maior idade, o cauteloso pai tratou de obter um decreto régio, que impunha à Prioresa das Ursulinas a obrigação de as não entregar senão a seu pai ou sucessor de sua casa. A rapariga porém teve artes (o amor é sempre poderoso e imaginativo) de continuar a correspondência com o fidalgo vizinho do Avelar. Com o consentimento escrito da donzela, requereu Francisco Jácome ao Desembargo do Paço autorização para o casamento, alegando a violência do Borges, que, contra vontade, tinha a noiva enclausurada. Pediu que o Ouvidor conhecesse esta verdade, pela inquisição das partes e das religiosas.

Casa do Avelar

Quando o pai soube disto, apelou para a Rainha, e, para inutilizar o requerimento, não houve defeito que não pusesse ao Jácome. Embora de ilustre família, era de má conduta: jogador, caloteiro por ofício e outras prendas, que o afastavam do convívio dos cavalheiros. Por tal forma carregou a parte, que a piedosíssima D. Maria I, mandou ordem ao Desembargador Mendanha, então a inventariar os bens do Arcebispo D. Gaspar, para prender e remeter para Lisboa o apaixonado mancebo. Mendanha cumpriu e Francisco Jácome recolheu às prisões do Castelo, até que, numa liteira com escolta foi parar com os ossos ao Limoeiro.

Solar de Infias

Uma vez em Lisboa, conseguiu amigos e parentes, que verdadeiramente informassem a Rainha. O Desembargo do Paço tomou então conhecimento do requerimento, deferindo-o. Feita a inquirição pelo Ouvidor de Braga, foi D. Ana José Maria remetida a Lisboa para casar com Francisco Jácome. Realizou-se o matrimónio na Capela do Priorado de S. Laurenço, a 12 de Outubro do ano seguinte de 1790 (Cf. Dr. Domingos Afonso, Famílias ilustres de Braga, «Bracara Augusta», vol. IV). Grande descendência teve este casal, prova ainda de que eram aleivosas as acusações feitas.

Alberto Feio, “Diário do Minho”, 17 de Maio de 1955 e “Alberto Feio - Coisas Memoráveis de Braga e outros textos”, organização, prefácio e bibliografia por Henrique M. Barreto Nunes e Eduardo Pires de Oliveira, Universidade do Minho, Biblioteca Pública de Braga, Braga, 1984.

1 comentário:

Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Pois veja bem...

nada acontece ao acaso... Se eu tivesse nascido no passado, faria hoje parte da história, por enforcamento em praça pública, ou... Ou... Ou...

Beijos e obrigada pelo belo texto!!!

Boa semana!!!
Cris