13 de fevereiro de 2007

Da abstenção

Busto de Péricles c. 495 BC – 429 aC por Cresilas, Altes Museum, Berlin“(...) A nossa constituição política não segue as leis de outras cidades, antes lhes serve de exemplo. O nosso governo chama-se democracia, porque a administração serve os interesses da maioria e não de uma minoria.
De acordo com as nossas leis, somos todos iguais no que se refere aos negócios privados. Quanto à participação na sua vida pública, porém, cada qual obtém a consideração de acordo com os seus méritos e mais importante é o valor pessoal que a classe a que se pertence; isto quer dizer que ninguém sente o obstáculo da sua pobreza ou da condição social inferior, quando o seu valor o capacite a prestar serviços à cidade.
(...)
Esta é a cidade, pois, que com razão estes homens não quiseram deixar que fosse manchada e pela qual morreram valorosamente no combate; os nossos descendentes estão dispostos a sofrer tudo para assegurar a sua defesa. (...)”

De, Oração Fúnebre de Péricles.

56,39% de abstenções. 4 981 015 indivíduos que optaram por não assumir o estatuto de cidadãos. Excluindo os que, por razões de força maior, terão sido impedidos de exercer o direito de voto, ter-se-á de inferir que a este grupo de pessoas auto-marginalizadas não interessa os destinos do País nem o das suas gentes, colocando-se assim, voluntariamente, na posição de estrangeiros na própria pátria. Não me repugnaria muito se lhes fosse retirado ou suspenso o estatuto de cidadãos e se lhes atribuísse o de metecos ou equivalente, correndo mesmo o risco de insultar a memória de todos os que na antiga Atenas sofreram por serem excluidos, com base na sua condição de nascimento, da participação na vida política da cidade. É que, pior que ser forçado à inferioridade, é desprivilegiar-se por vontade própria. Destes, nunca a História rezará.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será mais uma consequência da elevada taxa de iliteracia portuguesa (64%)? Ou a sociedade está simplesmente anestesiada?

Anónimo disse...

pois é pois é! até tenho vergonha de ser portuguesa.