27 de abril de 2007

Cuidado com o Irão, Sra. Clinton!

Calculo que seria um descalabro semelhante ao que sucedeu a saída dos portugueses de África, o abandono, nesta altura, do Iraque pelas tropas americanas. Infelizmente (*), parece ser o cavalo de batalha preferido da Sra. Clinton desde que anunciou a sua candidatura à presidência do Império. É pura retórica demagógica e, dentro da sua aparente ignorância dos assuntos do Médio Oriente, perigosa. É sabido que grande parte dos americanos, talvez a maioria, deseja o regresso das tropas estacionadas no Iraque onde têm vindo a sofrer milhares de baixas numa guerra que se traduz num gigantesco sorvedouro de dinheiro, mesmo à escala de um Estado onde há muito. Nitidamente a campanha desta candidata dirige-se a estes descontentes, dos quais, muitos se lembram ainda muito bem do Vietname. Mas o erro foi cometido há mais de três anos, no momento em que foi decidida a invasão do país que já nem sequer é de Saddam. Agora importa não o agravar com decisões impensadas e movidas por interesses que se ligam apenas a jogos egoistas de poder. O abandono americano do Iraque representa o abrir de portas a todos os abutres que rodeiam este país petrolífero. A Turquia está desejosa de entrar no lado iraquiano do Curdistão, a pretexto de perseguir os guerrilheiros curdos (vulgo, terroristas) que aí se refugiam. O Irão está desejoso que o aviso de Saddam Hussein (“Cuidado com o Irão!”, proferido em tom profético sobre o cadafalso) se cumpra quando um governo xiita indefeso e mal preparado lhe pedir ajuda militar para suster os sangrentos ataques e atentados dos sunitas do Baath. A Arábia Saudita não está nada interessada em que o peso da balança do poder no Iraque penda completamente para o lado iraniano, ou correrá o risco de perder a influência geo-estratégica na região, da qual depende em grande medida o seu vasto mercado baseado na exportação de fonte de energia não-renovável. O Iraque é um bolo deformado, mas que não perdeu o seu rico sabor, e muitos, para além dos países das empresas petrolíferas, desejam gulosamente talhá-lo.


(*): Porque até simpatizo com a senhora esperando, naturalmente, que isso não se deva apenas aos seus lindos olhos.

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