12 de abril de 2007

Na graça dos deuses


Ao 21.º dia, precisamente quando é anunciada a revisão em alta da economia portuguesa e a sobrelotação iminente do aeroporto da Portela, surge em público e, mitificando ou não os factos, dá o que aparenta ser uma estocada certeira na blogosfera, imprensa e oposição política.
A blogosfera é tratada ainda, com certeza por conveniência de políticos e outras figuras públicas que nesta vasta plataforma têm sido indiciados dos mais variados erros, fraquezas ou crimes, como uma entidade abstracta, movediça, dificilmente observável e analisável (o que não deixa de ser verdade). No entanto, foi num blog devidamente identificado que saiu aquilo que talvez pudesse ter sido considerado como a acusação que o Primeiro ontem afirmou não existir. Não seria nada de mais, nem menos do que o minimamente exigível, confrontar o entrevistado com o conteúdo do blog. Isso não foi feito e estou convencido de que não se tratou de mero esquecimento acidental. Nem sequer uma leve referência ao “Do Portugal Profundo” lampejou. Não houve jornalistas armados com documentação e dados concretos (José Alberto Carvalho nem sequer sabia os nomes das firmas que deram pareceres negativos à Ota), ou os simples papel e lápis com que poderiam registar as contradições eventualmente detectáveis nas respostas do entrevistado. Nada foi perguntado acerca do destino dos doentes durante o período compreendido entre o encerramento de urgências e a anunciada abertura de novas, quando o procedimento normal é abrir primeiro as novas e proceder posteriormente à transferência de pessoal, serviços e utentes.
Maus jornalistas? Péssimos actores? Ou ambas as coisas?
O Primeiro saiu de cara lavada, com a protecção dos deuses tal como acontece com todos os vencedores. A oposição de direita revelou, uma vez mais, o estado calamitoso em que se encontra, quer no silêncio que antecedeu a entrevista, quer na reacção que teve. Se houvesse lugar a antecipadas, adivinhar-se-ía nova vitória dos socialistas e, mesmo que não com maioria absoluta, certamente com o acréscimo da força que provém da repetição de vitórias eleitorais.
“Vamos concentrar-nos nas coisas que realmente interessam!”, constituiu a declaração de armistício e capitulação da esquerda em relação a uma guerra em que nunca se atreveram a entrar.
Mas, apesar de tudo:
Foi o primeiro abalo sofrido por este governo. Percebeu-se bem a tremedeira, sem recurso a sismógrafos ou quaisquer outros instrumentos de precisão. E esse facto, essa vitória, esses louros, têm que ser imputados à LUSOSFERA, a essa “oposição-mirim” que vive nas opiniões irreprimíveis do cidadão-comum.

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2 comentários:

Isabel disse...

A expectativa foi desmesuradamente grande para uma entrevista que se adivinhava desenhada com precisão, qualquer que fosse o canal televiso, diga-se.

Ainda que se sentisse um ou outro deslize, como geralmente acontece a todos aqueles que têm confiança a mais, o desfecho desta polémica confirma que Portugal continua um país de brandos costumes.

joshua disse...

Chegados aqui, com uma lusoblogosfera activa, poderosa, cheia de mentes numa sinergia imparável, nada será como dantes porque os mecanismos de vigilância da acção política e a emissão imediata de opiniões, sentimentos e estados de espírito, farão com que se esboroe a inconsistência dos mentirosos, a verborreia dos tendenciosos, a nuvem de enganos de que se faz a vida nacional.

Certeiro post!!!