24 de maio de 2007

Um parlamento arejado e com novos inquilinos

Em Penúria da classe política e riqueza de bloggers, de 16/05/07 e João Gonçalves no parlamento?, de 17/05/07, Miguel Castelo Branco (Portugal é uma ruína caiada pelo luar) faz referência a uma nova direita portuguesa que está aí na blogosfera. É verdade. Há muito que havia reparado nesses blogues a que MCB faz referência. E, claro, no próprio Combustões. Aliás, foi a partir deste que cheguei ao conhecimento dos outros. Não foi imediata esta descoberta: ligações para certos blogues, fizeram-me, no início, suspeitar de uma qualquer organização fascista estabelecida na blogosfera. "Linkados" uns aos outros, tornar-se-iam mais visíveis nos motores de busca. E lá estava o fascismoemrede.blogspot.com, agora preocupado com a liberdade de expressão (a deles, claro, não a de todos) para enfatizar essa suspeita. É direita, sim, mas, de facto, uma nova direita "desempoeirada, lida, informada, jovem e resoluta", como descreve MCB. Algumas postagens que tive a oportunidade de ler, reflectiram-me imagens de livres-pensadores. Uma, em especial, foi revelante: A direita portuguesa fez cem anos. Mas... desapareceu! Ora isto, em minha opinião, é estranho e não abona muito em favor do Il. Jansenista, embora respeitando, evidentemente, a opção do Autor que há-de ter tido as suas razões e é dono do que escreve.
E a esquerda? Existirá alguma nova gente que, com percursos políticos à esquerda, tenha superado as velhas limitações ideológicas, transgredido o dogma marxista criado por esses Lenine, Staline, Trotsky, Mao, e decidido admitir a evidência do falhanço do comunismo? Alguém que, tendo visionado as semelhanças entre todos os totalitarismos, mantenha a garra crítica e a generosa combatividade dos sonhadores? Os utópicos, os loucos visionários, onde estão?... Nada. Não vejo nada. Vejo jovens na rua, revoltados e certamente com razão, mas sob os ídolos de outrora, os Ches, as estrelinhas, os A's dentro de círculos, tão saudosos como aqueles a quem apelidam de saudosistas, sem imaginação para mais do que repetir velhos slogans exaustos como "a imaginação ao poder", pessoas que, incapazes de produzir uma qualquer pequena novidade com uma ponta de interesse ou utilidade, vão recitando palavras de defuntos que, a seu tempo, noutras conjunturas e noutras épocas, conseguiram o belo efeito libertário de chocar outros que também há muito morreram. Alguns, do alto de um estatuto social que a sua própria imaginação produziu para si mesmos, gritam como zombies que "é proibido proibir", proibindo dessa maneira que se proiba o seu discurso, mas não o que não lhes é favorável. Pobre esquerda esta que vive da recordação de um passado que decidiu julgar glorioso! Que supõe ser a sociedade democrática eterna devedora das suas lutas políticas do passado. Eu digo: quem vive do passado, não merece o presente. E a verdade é que o não tem.
Sem respostas satisfatórias a esta minha vã demanda de uma nova esquerda, aproveitei as postagens acima referidas para dirigir a pergunta a Miguel Castelo Branco. Respondeu-me com Paulo Varela Gomes, citando de passagem, Medina Carreira. Mas nenhum tem blogue, por isso, não se trata exactamente de um paralelo com o que se passa com a direita que, essa sim, sabe aproveitar a liberdade que a blogosfera oferece. Até nesse aspecto parece mais moderna, ao mostrar que não perde o combóio da presente revolução tecnológica.
Não era, evidentemente, obrigação de Miguel Castelo Branco, responder-me a essa pergunta que coloquei em forma de desafio. Castelo Branco é um homem de direita, não tendo por isso que se preocupar com o que acontece na esquerda. Se nada acontecer, melhor para a direita e maiores são as possibilidades de construção de uma sociedade conforme o que preconiza. Ainda menos tem quaisquer obrigações para comigo que não conhece de lugar algum, a não ser desta espaçosfera. A obrigação que refere parece assim vir da elevada educação que demonstra possuir.
Obrigado, eu!

Os nomeados:

Inaugurações, Implosões, Panegíricos e Vitupérios



O que me interessa é chamar a atenção para o estado de crise moral em que nos encontramos, aquilo a que chamo a "ciganização do país". António José Saraiva

Postais conspiradores, emitidos da praia da Junqueira, no antigo município de Belém, de que foi presidente da câmara Alexandre Herculano, ainda de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico, nesta varanda voltada para o Tejo

"Não cuideis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada." Mat 10:34

"... Le refus de la politique militante, le privilège absolu concédé à la littérature, la liberté de l'allure, le style comme une éthique, la continuité d'une recherche". Pol Vandromme

Reflexões austeras sobre a espuma dos dias

2 comentários:

cristina ribeiro disse...

Todos os nomeados são para mim blogues de referência.
Cheguei ao "Combustões"através d'"O Insurgente" e a todos os outros via blogue de MCB.
Claro que li o post sobre Paulo Varela Gomes,cujos escritos já apreciava,e lembro-me de um programa televisivo que me encantou,sobre a Ordem de Malta.

Pedro Leite Ribeiro disse...

É uma gente interessante. Muito desassombrada e sem papas na língua. Apontam muito à esquerda, como é natural, mas também não têm pejo algum em mandar umas arcabuzadas à direita. Quanto a Miguel Castelo Branco, só posso dizer que é senhor de postura exemplar e que, numa coisa ao menos concorda com Mário Soares: "Só os burros não mudam de ideias!" :)