2 de janeiro de 2008

Ano novo, vida nova

A Fénix reerguida das cinzas
Os costumes que se repetem na passagem de ano, rituais do género de bater os tachos, buzinar, lançar foguetes, agitar dinheiro, subir a cadeiras, comer doze passas, dar um mergulho no mar e outros que não conheço ou não recordo, têm todos duas finalidades: enterrar o ano que acaba, o "Ano Velho" e afastar más influências ou génios malignos do que começa, o "Ano Novo", incentivando assim a auto-confiança e o optimismo. É de superstições que se trata, por isso, à partida, perfeitamente dispensáveis e até de evitar. É que, como ouvi uma vez dizer, a superstição dá azar. No entanto, estas tradições, se não levadas demasiado a sério, são completamente inofensivas, ao contrário de outras ainda em vigor e com protecção legal cuja existência devia há muito ter terminado. Refiro-me, como se deve ter tornado evidente, às corridas de touros de morte praticadas ainda hoje, em pleno século XXI, em pelo menos uma localidade alentejana e na nossa vizinha Espanha, um dos países mais progressivos da moderna União Europeia, que, a não ser na questão da legalidade, em muito se assemelham às clandestinas e cruéis lutas de cães que em certos locais se praticam.
As tradições da passagem de ano encontram raízes em ritos tão antigos que se perdem na bruma dos tempos e são universais. Respeitam um desejo unânime de renovação da vida, estão de acordo com os ritmos naturais da eterna repetição das Estações. Começa, aqui no hemisfério norte, a notar-se o aumento dos dias em relação às noites e não há-de tardar muito, estará aí a Primavera depois das neves de Fevereiro. Seja como for, em qualquer dos hemisférios e em todos os meridianos, a vontade é a mesma: que o novo ano seja melhor que o anterior. Desejamos isso a nós mesmos e àqueles que amamos, mas também a todos os outros por quem nutrimos alguma espécie de estima. Não é só o tempo que se renova. Somos nós também que rejuvenescemos nas trocas de afectos e bons votos. É o renascimento, afinal, o que se festeja.
É costume, também, fazerem-se balanços do ano que passou. Vêm-se nas televisões, nos jornais, nas revistas, nos blogues. O que foi bom e o que foi mau. Os vencedores nas mais diversas categorias. Gostei da nomeação do "Pior Português do Ano" feita pelo O Jansenista a Vanessa Fernandes.
Também eu decidi alinhar neste espírito contabilista e fazer o balanço do meu próprio ano de 2007. Foi bom: amei e fui amado; tive trabalho e procurei desempenhá-lo bem; não perdi nenhum amigo (um caso houve em que julguei que isso me tinha acontecido até perceber que essa pessoa, afinal, não era minha amiga, mas tão só do seu próprio ego que, para sua desgraça, cresceu mais depressa do que o seu corpo e muito mais do que a sua maturidade); não estive gravemente enfermo, nem tampouco nenhuma das pessoas de quem gosto; estou vivo (escrevo, logo vivo) e mantenho uma razoável lucidez; sou livre (mesmo fumando) e, como um rei, acima de qualquer ideologia.
Não creio que 2008 vá ser muito melhor que 2007: para já, verifico que os não fumadores já não têm que respirar o meu fumo quando partilhando o mesmo espaço público, mas eu continuarei a ter que inspirar o fedor venenoso dos carros deles sempre que saio à rua.
Ah, é verdade: este ano é o centenário da ignomínia que a República gostaria de fazer esquecer mas à custa da qual vive.

5 comentários:

koolricky disse...

Caro Pedro, quanto aos seus comentários acerca dos deveres dos não fumadores em não utilizar o carro, será que os fumadores não têm carro?
Concordo que o fumo dos carros devia ser reduzido não só pelos não fumadores mas também pelos fumadores. Mas numa cidade onde o rei (leia-se autarca) e a aristocracia (leia-se cimento) apoiam o uso do carro, criando parques de estacionamento e túneis, em vez de fomentarem uma rede de transportes eficaz, creio que o nosso desejo vai morrer de velho.

Pedro Leite Ribeiro disse...

Referi apenas os carros dos não fumadores porque são estes que têm aparecido como os estrénuos defensores do bom ambiente e da saúde.
Bom ano, Koolricky!

Berro d'Água disse...

Gostei do teu balanço e achei graça do teu comentário sobre ter de aturar a fumaça dos carros dos não fumantes, o que é uma grande verdade. Todos, de um modo ou outro, somos poluidores desenfreados do meio ambiente.
Eu sou uma ex fumante e me decidi por abandonar o vício, por ter entendio que fumar já não era uma coisa que eu fazia por prazer e até mesmo me dava desconforto e uma certa vergonha... Estranhamente parecia que aquilo não era mesmo correto de ser feito e não fazia mais parte de mim. Mas isso não foi uma coisa que eu assimilei por vias externas e sim, por buscar me entender melhor a cada dia e me refiro aqui ao meu funcionamento e valores pessoais. No entanto eu temia deixar de fazê-lo pois acreditava um tanto nas coisas ditas e que são divulgadas pelos que deixaram de fumar ou pelos que se valem das "necessidades" dos que precisam ou querem deixar de fazer uma coisa dessas, oferendo então uma outra coisa tão nociva quanto, em substituição... Há sempre ofertas milagrosas como chicletes que auxiliam na abstinência, adesivos, medicamentos específicos, ansiolíticos e uma parafernália de coisas, que me fez pensar que deixar de fumar era mesmo bem mais prejudicial do que continuar a ingerir doses homeopáticas de morte lenta e certa!!! Mas o que mais me assustava mesmo era optar por deixar de fumar e ter de passar a me sentir completamente ansiosa e dependente de coisas que eu nem poderia imaginar o que poderiam ser. E assim, durante um tempo e mesmo não gostando mais de ser fumante, eu fumava por acreditar que o cigarro me aliviava a tensão e assim eu fumava mais e mais até um dia em que eu decidi que no dia seguinte eu pararia de fumar definitivamente e que não me auxiliaria de nenhum dos milgres disponíveis no mercado, em substituição ao cigarro de cada hora!!! Comprei uma carteira de Malboro - fumei esse cigarro durante muitos e muitos anos e em média umas 2 carteiras por dia - e voltei para casa para dormir. Acordei no dia seguinte, tomei um delicioso café da manhã, observando o dia crescer através da janela da minha varanda voltada para a Lagoa da Conceição e abri a minha última carteira de cigarros. Retirei um deles e o rodei entre os dedos pensando nos muitos anos em que eu precisei dele... Acendi e me deliciei com meu último cigarro da minha vida. Fumei-o até o final, pausada e deliciadamente e guadei a carteira na minha mesa de cabeceira. Lá ela permaneceu por mais de dois anos e do mesmo modo como eu a deixei no dia em que fumei pela última vez.
Para meu espanto, jamais eu me senti em ansiedade pela falta do cigarro e muito pelo contrário, pude perceber que era ele quem me deixava ansiosa. Raríssimas vezes voltei a sentir vontade de fumar e mesmo assim, foi algo tão passageiro que não precisou nada além de um respirar mais profundo por ter me livrado do domínio de algo que de modo algum poderia ser superior a minha vontade e que somente depois de ter me livrado dele, pude me dar por conta de que não combinava em nada comigo. Acho que foi mesmo isso que me fez parar de fumar, ou seja: eu não gostava da idéia do domínio que o cigarro exercia sobre mim, embora gostasse do ato de fumar. Mas eu não era uma apreciadora do fumo e sim, uma tabagista compulsiva. Se fumar passou a ser algo que me dominou, então deixei de ter prazer e fazer alguma coisa sendo lá o que for, por imposição externa, é totalmente por fazer e incompatível com prazer. Desse modo, deixar de fumar para mim foi algo que veio naturalmente e que eu não me arrenpndi um só minuto de ter deixado e lamentei de não tê-lo feito antes, mas justamente por ter sido uma dependente do cigarro é que não prego contra ele, pois sei que cada um tem seu momento de entendimento de até onde pode, gosta, ou se permite viver escravisado. O mesmo é válido para os carros... De que adintará eu sair por aí a pregar que a queima de combustíveis fósseis levará a terra à ruina??? Todos nós sabemos disso e ainda assim, continuamos deslumbrados com o último modelo dessa ou daquela marca... Ou melhor: eu não me deslumbro mais com eles tampouco e estou no mesmo processo. Já larguei desse vício, também!!! Mas gosto de carros e especialmente dos jipes grandes, potentes, valentões e com cara de caminhões. Mas reconheço que gostar não implica em ter e nem em aderir e não posso sair por aí pregando que não comprem carros movidos a combustíveis fósseis...

E agora uma brincadeirinha: tu acredita que o cigarro combina contigo???

Beijinhos Pedro!!!
Cris

Pedro Leite Ribeiro disse...

Olá, Cris! De facto acho que o cigarro não me fica muito bem. Tenho pensado no assunto e vou ver nos próximos dias o que me vai acontecer.
Estou a pensar comprar um desses adesivos muito grandes e enrolar-me completamente nele. Que tal?
Quanto aos carros, eu também gosto deles. Mesmo os mais modernos e topo de gama, logo que movidos a combustíveis fósseis, são coisas arcaicas e tecnologicamente ultrapassadas. O problema é que é um veneno muito bem publicitado e empacotado. Também era assim o tabaco quando eu era miúdo.
Para lá disto tudo, chateia-me bastante esta onda proibicionista que está a fazer moda na UE.

Berro d'Água disse...

Quando li tua resposta fiquei te imaginando enrolado num adesivo, feito criança que se enrola em tapetes... E se fizeres isso, vais morrer por overdose de nicotina!!!

HuaHuaHuaHuaHua...

Se tiveres mesmo pronto a deixar o cigarro, isso será feito sem sofrimentos e não precisarás de nada além de tua determinação. Se tiveres de te valer de outras fórmulas miraculosas para deixar do vício, continue fumando e busque a melhor forma pra te sentir bem!!!

Beijinhos,
Cris