7 de fevereiro de 2008

Dividir para reinar


Há já vários anos que os sucessivos governos portugueses perceberam que o País não é vendável e as exportações não podem crescer, se Portugal continuar a mostrar ao Mundo números elevados de analfabetismo e de trabalhadores com baixas qualificações técnicas e literárias. Desde então tudo tem sido feito pelos ministérios da educação para dificultar ao máximo as retenções de alunos nos ensinos básico e secundário. Exigentes justificações para os níveis negativos atribuídos, planos de recuperação de toda a espécie, desde atenções especiais e diferenciadas na sala de aula, às tutorias, passando pelas aulas de estudo acompanhado, salas de estudo para disciplinas consideradas nucleares, aulas de apoio pedagógico acrescido...
Têm, os ministérios da educação, deparado com um problema: os docentes, à massificação dos aproveitamentos falso-positivos, têm preferido manter alguma exigência na qualidade das competências que os alunos devem mostrar que adquiriram. De facto, os professores, ao contrário do que muitos políticos vêm revelando ao longo dos anos, têm mostrado alguma lucidez no que respeita à separação do conceito de Estado do organismo de poder político que o governo é. Consideram-se a si mesmos funcionários do primeiro e não peças da engrenagem do segundo. Assim, parece que têm vindo desde sempre a entender o problema das baixas qualificações da população portuguesa, como algo que não lhes compete a si resolver, mas sim ao(s) governo(s), problema esse que passa pela melhoria geral das condições sócio-económicas dos portugueses. Numa sociedade mais desenvolvida, todos os jovens que chegam à escola devem ter, à partida, condições semelhantes para prosseguir os estudos. Depois, tudo dependerá apenas das aptidões de cada um, das quais, a mais importante será, evidentemente, a capacidade de trabalho.
Finalmente, apareceu um governo capaz de vencer esta determinação dos professores que, até agora, tem mostrado ser razoavelmente bem sucedida. Primeiro, tratou de os dividir: titulares e não-titulares; depois, fez depender a avaliação dos professores, portanto, a progressão na carreira, do sucesso escolar obtido, isto é, do número de alunos que conseguem aprovação. A isto soma-se, ainda, a avaliação dos professores pelos encarregados de educação, aliás, pelos alunos, já que são estes que transmitem em casa a informação filtrada do que se passa na escola. E avaliará, algum pai, pela positiva, um professor que reprovou o seu filho? Desta maneira parece assegurado um aumento fulgurante do sucesso escolar em Portugal. Mas, torne-se público, é batota. Sairão muitos com certificados de habilitações mas tão analfabetos como os que antes nunca conseguiriam o sucesso. São fraudes. E para isto, foi preciso apenas um deles ter chegado ao poder.

1 comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

O que um trapinho vermelho debotado pode fazer! Tem desculpa para todo o tipo de vilanias. Arre canalha!