Depois da espanholada na Amnistia Internacional, um pouco do bom, velho português vicentino, trazido aqui à internet em som e escrita. O diálogo entre Joane e o Mestre da Barca do Inferno, extraido da primeira parte da trilogia das Barcas, peça de Gil Vicente levada à cena, pela primeira vez, em 1517:
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
PARVO:
- Hou daquesta!
DIABO:
- Quem é?
PARVO:
- Eu sô.
É esta a naviarra nossa?
DIABO:
- De quem?
PARVO:
- Dos tolos.
DIABO:
- Vossa.
Entra!
PARVO:
- De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma: vim adoecer
e fui má-hora a morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO:
- De que morreste?
PARVO:
- De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO:
- De quê?
PARVO:
- De cagamerdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO:
- Entra! Põe aqui o pé!
PARVO:
- Houlá! Num tombe o zambuco!
DIABO:
- Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
PARVO:
- Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO:
- Ao porto de Lucifer.
PARVO:
- Ha-a-a...
DIABO:
- Ó Inferno! Entra cá!
PARVO:
- Ó Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pero Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardenapo!
Neto de cagarrinhosa!
Furta-cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
pera Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
Hiu! Hiu! Lanço-te ua pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
PARVO:
- Hou daquesta!
DIABO:
- Quem é?
PARVO:
- Eu sô.
É esta a naviarra nossa?
DIABO:
- De quem?
PARVO:
- Dos tolos.
DIABO:
- Vossa.
Entra!
PARVO:
- De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma: vim adoecer
e fui má-hora a morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO:
- De que morreste?
PARVO:
- De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO:
- De quê?
PARVO:
- De cagamerdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO:
- Entra! Põe aqui o pé!
PARVO:
- Houlá! Num tombe o zambuco!
DIABO:
- Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
PARVO:
- Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO:
- Ao porto de Lucifer.
PARVO:
- Ha-a-a...
DIABO:
- Ó Inferno! Entra cá!
PARVO:
- Ó Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pero Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardenapo!
Neto de cagarrinhosa!
Furta-cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
pera Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
Hiu! Hiu! Lanço-te ua pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
1 comentário:
LOL :-D! É muito engraçado este excerto. Há muito que não vejo em cena. Foi bom recordar.
beijos
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