"A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento" (Milan Kundera).
A negação da existência do holocausto não passa da tentativa de o apagar da memória dos homens. Não assinalar o bombardeamento de Dresden em 45 não é mais do que a tentativa de o deixar caír no esquecimento. Descubra, quem quiser, a diferença. Já entre Guernica e Dresden, a única dissonância (para nós, não para as vítimas) reside no número de baixas civis, que é abismal.
Gostei muito do artigo de JPP no Público de 21 do corrente, republicado quatro dias depois no Abrupto, acerca da recente criminalização da negação do holocausto, contrapondo-a à tolerância legislativa persistente no que respeita aos crimes do comunismo. É verdade que cada vez mais tudo é legislado e cada vez mais o é através da proibição; é verdade também que se verifica, no Velho Continente, um esforço de normalização dos costumes e de formas de pensar (!). Parece-me, no entanto, que este fenómeno poderá não ser mais do que uma reacção defensiva da "livre" Europa aos movimentos totalitários que, com o agravar da perigosidade do islamismo fundamentalista, se têm vindo a manifestar com crescente arrogância no seio do espaço europeu. Dito de maneira simples, trata-se de reagir a uma estalada com outra, o que não deixa de se situar dentro da sensata legitimidade do direito de defesa.
Mesmo tendo em conta que a gravidade das consequências da negação do holocausto não é a mesma da negação da ida do homem à Lua, com esta nova legislação, se me apetecer dizer em público, por exemplo aqui no Idolátrica, que não houve holocausto, posso ser preso, o que, sem dúvida, deixaria a liberdade de expressão (e eu) em muito maus lençóis. Se eu negar a existência dos goulags, progroms, valas-comuns e outros crimes do estalinismo, não me acontece nada mais grave do que posicionar-me no ridículo. Se negar o bombardeamento de Dresden, felicitam-me e até me agradecem. Alguns governos deste continente têm já um longo historial no encobrimento de crimes horrendos que envergonham os seus países. Para estes "mandarins da Europa" (obrigado, F. P.!) a Liberdade não passa de um argumento potencialmente esgrimível em discursos demagógicos e a História, uma ainda respeitável área de conhecimento que pode e deve ser revista consoante os conjunturais "altos interesses" das nações, leia-se antes, a manutenção do status dos poderosos.
Consultas:
Apontamentos de Churchill sobre o bombardeamento de Dresden (documento protegido pelas leis de copyright norte-americana e britânica)
Marco A. T. Antunes, Uma história do gulag
Gostei muito do artigo de JPP no Público de 21 do corrente, republicado quatro dias depois no Abrupto, acerca da recente criminalização da negação do holocausto, contrapondo-a à tolerância legislativa persistente no que respeita aos crimes do comunismo. É verdade que cada vez mais tudo é legislado e cada vez mais o é através da proibição; é verdade também que se verifica, no Velho Continente, um esforço de normalização dos costumes e de formas de pensar (!). Parece-me, no entanto, que este fenómeno poderá não ser mais do que uma reacção defensiva da "livre" Europa aos movimentos totalitários que, com o agravar da perigosidade do islamismo fundamentalista, se têm vindo a manifestar com crescente arrogância no seio do espaço europeu. Dito de maneira simples, trata-se de reagir a uma estalada com outra, o que não deixa de se situar dentro da sensata legitimidade do direito de defesa.
Mesmo tendo em conta que a gravidade das consequências da negação do holocausto não é a mesma da negação da ida do homem à Lua, com esta nova legislação, se me apetecer dizer em público, por exemplo aqui no Idolátrica, que não houve holocausto, posso ser preso, o que, sem dúvida, deixaria a liberdade de expressão (e eu) em muito maus lençóis. Se eu negar a existência dos goulags, progroms, valas-comuns e outros crimes do estalinismo, não me acontece nada mais grave do que posicionar-me no ridículo. Se negar o bombardeamento de Dresden, felicitam-me e até me agradecem. Alguns governos deste continente têm já um longo historial no encobrimento de crimes horrendos que envergonham os seus países. Para estes "mandarins da Europa" (obrigado, F. P.!) a Liberdade não passa de um argumento potencialmente esgrimível em discursos demagógicos e a História, uma ainda respeitável área de conhecimento que pode e deve ser revista consoante os conjunturais "altos interesses" das nações, leia-se antes, a manutenção do status dos poderosos.
Consultas:
Apontamentos de Churchill sobre o bombardeamento de Dresden (documento protegido pelas leis de copyright norte-americana e britânica)
Marco A. T. Antunes, Uma história do gulag
2 comentários:
" E tudo que é sólido se desmancha no ar"!
Gostei muito...
Beijo,
Cris
Em relação às estaladas, "quem se lixa é o mexilhão", quer dizer, levamos com os atentados, ou com o medo deles, e depois com as consequentes medidas restritivas em relação às liberdades de expressão, circulação e o que virá por aí. Quanto aos estados da matéria, o sólido parece ter caído definitivamente em desuso.
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