4 de abril de 2008

Uma família feliz

RTPN, Fórum do País, Quinta-Feira, 3 de Abril de 2008.
Margarida Moreira, directora da DREN, Arsélio, o Professor do Ano, o presidente da Associação de Estudantes da Escola Carolina Michaelis, Eduardo Jorge Madureira, meu estimado amigo e jornalista do Público e outra pessoa que desconheço, para além, claro da jornalista, cujo nome também não conheço.
Num final de apoteose feliz, todos concluíram que o caso da Carolina foi uma infeliz excepção a um sistema onde há coisas maravilhosas à espera de serem reveladas, talvez, quem sabe, por algum telemóvel indiscreto. Os inúmeros vídeos do Youtube que têm popularizado o comportamento simiesco dos alunos das escolas básicas e secundárias do País, treino intensivo para as imbecis praxes do superior, as entrevistas a professores vítimas de actos violentos e atitudes animalescas dos seus alunos, tudo foi relegado para o esquecimento, de tudo foi feita tábua rasa. O sorriso de felicidade de Margarida Moreira era disso a mais directa consequência. Arsélio, o Professor do Ano, senil, sempre a bater nas mesmas teclas, as que lhe restam naturalmente, não conseguirá nunca aperceber-se do papel de roberto do ministério que não há meio de lhe dar a reforma. Eduardo Jorge Madureira comparou o caso do telemóvel da Carolina às batatas fritas, vá-se lá compreender os meandros por onde aqueles raciocínios se perdem. A Outra Pessoa Que Desconheço não pronunciou uma palavra. A jornalista, muito simpática, vinha munida de um papel que anunciou como sendo uma prova recente de uma ameaça de um encarregado de educação a um professor que tinha tirado o telemóvel a uma aluna, mas corou de embaraço quando foi colocada perante a informação de Eduardo Madureira de que isso era já uma história antiga que havia circulado pelas caixas de correio electrónico de toda a gente, já há muito tempo, cuja origem é desconhecida e a veracidade improvável. O aluno desempenhou bem o seu papel de presidente da AE e defendeu os estudantes, tal como lhe compete.
Ninguém referiu as consequências para o desenvolvimento dos alunos do aumento da carga horária. Ninguém falou da necessidade dos jovens disporem de tempo livre para a apredizagem da socialização e que esta, sendo neles uma necessidade natural, tem agora de ser feita nas aulas. Que este facto irá certamente marcar, não sabendo nós ainda de que maneira, a personalidade dos futuros cidadãos adultos. Ninguém disse que, antes das horas de substituição introduzidas pelo socratismo, os alunos gastavam nos recreios das escolas a energia que levam agora para a sala de aula. Que a confinação de grupos de pessoas a espaços fechados durante longos períodos de tempo levam ao aumento da agressividade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu Caro,

de facto, não comparei o caso do telemóvel às batatas fritas. Tentei, isso sim, dizer que, no processo de distribuição de culpas pelo sucedido, só faltou atribuí-las também às batatas fritas.

Em vez da repartição de culpas, julguei mais útil apresentar casos que conheço de medidas simples ou de boas práticas no combate à indisciplina.

Como o debate estava centrado no caso do telemóvel, não foi, por isso, possível, como seria desejável, desviar a conversa para os aspectos que têm provado ser muito importantes na tarefa de resolver os problemas disciplinares.

Cumprimentos,

Eduardo Jorge Madureira