Peço desculpa pelo despropósito e também por não assinar, acontece que me tornei cobarde... Não sei onde vou colocar isto. Ou seja este texto que ainda não escrevi mas que já imagino… É assim… antes de mais convém dizer que sou tudo menos racista ou xenófobo ou seja o que for… Ainda antes de 74 tive músicas ou melhor letras de músicas proibidas pela PIDE. Nunca me filiei em nenhum partido mas sempre me situei à esquerda… Hoje também penso ser de esquerda. Mas… Bem é tanta coisa que eu teria para dizer que tenho medo de me perder… Talvez seja melhor cingir-me a factos concretos. Desde que os sindicatos de professores traíram a grande maioria dos seus colegas, em troca da possibilidade de se candidatarem privilegiadamente a cargos mais apetecíveis, eu, professor que me empenhei numa luta que me parecia justa e que se reflectiu numa manifestação fantástica de 120 mil profs., passei a embebedar-me aos fins de semana. E assim a minha noite de sexta passou a acabar na abertura do mercado na manhã de Sábado. Uma ou duas vezes estive para estacionar nos enormes espaços vazios que havia junto ao passeio do mercado. A primeira vez, quando saí do mercado tinha gente de etnia cigana a tentar abrir o carro para o deslocar. Deixei de o fazer, mas ao chegar passei a perguntar aos feirantes vizinhos: estes lugares estão reservados é? Ao que eles respondiam: não, mas os ciganos devem estar a chegar e querem descarregar. Comecei a dar a volta ao mercado. Os lugares vagos à espera dos ciganos que pelos vistos não se levantam tão cedo como os restantes feirantes, são a maioria dos espaços à volta do mercado. Comecei a andar e a comentar como quem não quer a coisa: Parece que aqui há gente privilegiada… As respostas de olhos iluminados foram diversas mas sempre de quem se cala porque não vale a pena falar: “é melhor estar calado se tem amor à sua cabecinha” dizia a vendedora de cuecas encaixada entre espaços vazios onde os ditos “senhores da feira” iam calmamente chegando e montando as suas coisas. Pois, e o pior é que eu tenho que mostrar facturas dos meus cintos, enquanto que a eles ninguém os fiscaliza… dizia outro vendedor com quem comentei o assunto. Bem, acontece que eu sou ex-toxicodependente (felizmente de há muitos anos), mas ainda me lembro bem a quem ia comprar o produto… Há pouco tempo, um amigo (já condenado à morte e que entretanto se foi…) me pediu para o deixar ali a seguir a Prado, em Oleiros (Lembram-se da grande polémica?) Continua tudo na mesma, disse-me ele… Pois eu sabia que éramos governados pela selecção nacional da ladroagem… Cá no íntimo sabia… Só porque ainda sei somar dois e dois…
1 comentário:
Peço desculpa pelo despropósito e também por não assinar, acontece que me tornei cobarde...
Não sei onde vou colocar isto. Ou seja este texto que ainda não escrevi mas que já imagino…
É assim… antes de mais convém dizer que sou tudo menos racista ou xenófobo ou seja o que for…
Ainda antes de 74 tive músicas ou melhor letras de músicas proibidas pela PIDE. Nunca me filiei em nenhum partido mas sempre me situei à esquerda… Hoje também penso ser de esquerda. Mas…
Bem é tanta coisa que eu teria para dizer que tenho medo de me perder…
Talvez seja melhor cingir-me a factos concretos.
Desde que os sindicatos de professores traíram a grande maioria dos seus colegas, em troca da possibilidade de se candidatarem privilegiadamente a cargos mais apetecíveis, eu, professor que me empenhei numa luta que me parecia justa e que se reflectiu numa manifestação fantástica de 120 mil profs., passei a embebedar-me aos fins de semana. E assim a minha noite de sexta passou a acabar na abertura do mercado na manhã de Sábado.
Uma ou duas vezes estive para estacionar nos enormes espaços vazios que havia junto ao passeio do mercado. A primeira vez, quando saí do mercado tinha gente de etnia cigana a tentar abrir o carro para o deslocar. Deixei de o fazer, mas ao chegar passei a perguntar aos feirantes vizinhos: estes lugares estão reservados é? Ao que eles respondiam: não, mas os ciganos devem estar a chegar e querem descarregar. Comecei a dar a volta ao mercado. Os lugares vagos à espera dos ciganos que pelos vistos não se levantam tão cedo como os restantes feirantes, são a maioria dos espaços à volta do mercado. Comecei a andar e a comentar como quem não quer a coisa: Parece que aqui há gente privilegiada… As respostas de olhos iluminados foram diversas mas sempre de quem se cala porque não vale a pena falar: “é melhor estar calado se tem amor à sua cabecinha” dizia a vendedora de cuecas encaixada entre espaços vazios onde os ditos “senhores da feira” iam calmamente chegando e montando as suas coisas. Pois, e o pior é que eu tenho que mostrar facturas dos meus cintos, enquanto que a eles ninguém os fiscaliza… dizia outro vendedor com quem comentei o assunto.
Bem, acontece que eu sou ex-toxicodependente (felizmente de há muitos anos), mas ainda me lembro bem a quem ia comprar o produto… Há pouco tempo, um amigo (já condenado à morte e que entretanto se foi…) me pediu para o deixar ali a seguir a Prado, em Oleiros (Lembram-se da grande polémica?) Continua tudo na mesma, disse-me ele…
Pois eu sabia que éramos governados pela selecção nacional da ladroagem…
Cá no íntimo sabia…
Só porque ainda sei somar dois e dois…
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