15 de outubro de 2006

O Ministro da Economia tem Razão!

Aparentando estar de acordo com teorias formuladas a partir da segunda metade dos anos 90 e hoje comummente aceites, Manuel Pinho reconhece o valor da Inteligência Emocional para a obtenção de sucesso, nomeadamente, económico-empresarial (“não se deve falar na crise, o que é bom é uma palavra de esperança”, afirmou em entrevista à TSF). Tem razão! Mas, politicamente, errou ao escolher a escola de Ferenc Gyurcsány, o famoso Chefe do Executivo da Hungria, cujas mentiras estiveram na origem dos recentes tumultos e levantamentos populares que todos acompanhámos pelas notícias. Em e-mail enviado por João Nuno Mendes, tive conhecimento do artigo de Nicolau Santos, Director adjunto do Jornal Expresso, publicado na Revista Exportar, cuja leitura recomendo vivamente ao Sr. Ministro e a todos os Portugueses. Passo a transcrever:

Portugal vale a pena

Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.
Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores. Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos.
Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.
Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.
Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses.
Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.
E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).
É este o País em que também vivemos.
É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.
Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons ser também seguidos?


Nicolau Santos,
Director adjunto do Jornal Expresso
In Revista Exportar

4 comentários:

Anónimo disse...

Só para dizer que este blog está cada vez mais interessante.
Quanto ao Nicolau Santos tenho uma ideia que pode fazer toda a diferença: o português é conhecido e reconhece-se a si mesmo pelo fado.
:)

Pedro Leite Ribeiro disse...

Se tu o dizes é porque é verdade e ainda bem que é assim! Obrigado!
Quanto ao fado, não é coisa a que me sinta ligado de alguma maneira. É uma canção do sul, demasiado nostálgica para a minha perspectiva da vida. Não me agrada muito perder tempo em contemplações lamuriosas e improfícuas do passado, apesar de possuír uma faceta mística que me leva, por vezes, a questionar o livre arbítrio.

Anónimo disse...

Não me referia à canção, nem a ti, a mim ou a alguém em particular. Mas antes ao português que se conforma com o que tem de ser e acontecer, que se rende à fatalidade, tipo "se deus quiser", demitindo-se de senhor do seu destino. E quer queiras quer não todos somos, ou já fomos, um pouco assim.

Pedro Leite Ribeiro disse...

A canção, o fado, reflecte essa maneira conformada de ser. "Erros meus, má fortuna, amores ardentes". Pagamos sempre as consequências dos passos que demos, quer seja nossa ou não a responsabilidade. Mandar no destino pode ser uma questão que não se pode colocar. O "destino" talvez seja uma das maiores mentiras da História. Às vezes parece-me que a Humanidade caminha sobre erros, em mitos. Por outro lado, parece-me lícito, na juventude, esperarmos o melhor da Providência.
Um beijo.