Como se vê, Idolátrica vem atravessando um deserto, faz já algum tempo. Falta, essencialmente, vontade de blogar. Nada mais. Há muito que as férias acabaram, apenas interesses mais fortes se impuseram. Depois dos "olhos feridos" já tive um olho inchado, o que, por breves momentos, me deu uma inconfessável e torpe esperança de me tornar rei nesta conhecida terra de cegos. Entretanto, alguns comentários, embora sem ser esse o seu objectivo, naturalmente, traduziram-se neste breve e esporádico regresso. Miguel Lopes deixou uma ligação para uma segunda opinião acerca do Dalai Lama, que pretende mostrar ("ensinar") uma faceta dita menos agradável do regime tibetano anterior à ocupação chinesa: a sua característica teocrática e feudalista, que reputa, à boa maneira ocidental, de obscurantista. Muitos de nós, ocidentais, habituámo-nos a considerar o nosso regime democrático, herdeiro da Revolução Francesa, o expoente máximo da política, e o nosso sistema social o exemplo para todas as sociedades. Desta maneira, como filhos legítimos da "civilizada" Europa de finais de oitocentos, apelidamos tudo o que de nós difere, de selvagem, primitivo, rude... Resulta-nos, assim, uma postura paternalista, altiva, arrogante, que nos faz pensar que podemos e devemos ser nós a escolher para esses tais povos "atrasados" o seu próprio modo de vida. SOS Acriticismo parece-me reunir condições para que se possa relacionar com tudo o que acima ficou escrito e ainda se lhe diagnosticar aquela cegueira tão própria dos positivistas. O meu olho ainda não está completamente curado.
9 comentários:
ahahahahaha...agora ri-me com vontade.
As melhoras do olho :)
Boa semana
beijo
Nós, o olho e eu, agradecemos e retribuimos os votos de boa semana.
Portanto, esses positivistas estacionaram o carro na certeza do luminoso regime. Como se enganam! Pensam eles: «Ora aqui é que se está bem!»
Tem de haver melhor e, sobretudo, que haja um verdadeiro respeito pelo pluralismo desde que a Pessoa seja defendida e promovida.
Melhoras para o oho!
Desconheço se, porventura, terá estado na "conferência" pública de S.S., em Lisboa.
Este seu post recordou-me a pergunta que, se tal coisa fosse possível, gostaria de ter posto ao Dalai Lama na ocasião: não seriam melhor aplicadas as pessoas que fazem "meditação" (e o tempo gasto na dita) em actuações práticas, no quotidiano, ajudando o semelhante?
Infelizmente, as perguntas a S.S. tinham de ser dirigidas por escrito, aprovadas, traduzidas. E foram apenas 5, de 10.000 pessoas.
Não basta, na minha opinião, não matar nem agredir ninguém. Como diria Sancho Pança, é necessário fazer alguma coisa, além de não fazer nada - nem mal nem bem.
Compreendo muito bem esse ponto de vista, mas às vezes, senão muitas das vezes, ajudar o semelhante sem que a ajuda tenha sido solicitada, constitui uma ingerência, e, como tal, abusiva, na vida dos outros. Se nada há de errado em meditar, não matar nem agredir são, por si só, manifestações de amor e respeito pelo semelhante e pela vida em geral. Se não odeio, amo. E desta forma dou o meu contributo individual para a paz e o amor universais, coisas que, para muitos, são completamente irrelevantes, utópicas, irrealistas, ridículas. Com estes, que desta maneira pensam, nunca nada mudará.
Um abraço, JPG, e obrigado pelo comentário!
P.S.: Não pude estar em Lisboa na altura da visita do Dalai Lama.
Tenho tido umas discussões bastante acaloradas com uma amiga, budista, sobre este assunto. Foi ela quem me "arrastou", por assim dizer, para a tal conferência pública do Dalai Lama... que eu admirava imenso antes mas que, agora, nem tanto.
Além da péssima impressão que me causou toda aquela falta de respeito (do público, 10.000 pessoas a "assistir" ao "show" de S.S. como se em palco estivesse o Marco Paulo e sus muchachos), não gostei lá muito do preço dos bilhetes para a "salvação": acho que 25 € por 2 horitas de prelecção (abrilhantada, ó horror dos horrores, por uma tuna), enfim, deixe-me cá desabafar, é um bocadito... "puxadote". Repare que, enquanto convidado, sequer fui eu a pagar (pelo espectáculo e pela "salvação", de brinde); trata-se de uma questão de princípio - pagar pela dita é inadmissível e é, portanto, uma desdita.
Aceitando complacentemente a bondade das intenções, não me parece que seja de aceitar a inacção como modo de vida e, ainda por cima, sendo a inércia postulada como um bem supremo e um fim em si.
Uma pessoa com uma perna partida, em especial com fractura exposta (por exemplo, sempre por exemplo), não precisa de solicitar ajuda. Qualquer pessoa de bem a presta, de imediato. Aquilo que me parece ser doutrina do budismo, não leve a mal a observação, é que as pernas partidas se curam com muita carga de meditação e as fracturas expostas com imenso, enorme, gigantesco, infindável respeito... pelas formiguinhas, pelas avezinhas e por outras criaturas acabadas em "inhas".
O Dalai Lama simboliza e representa uma ideia. Os budistas seguem essa ideia. Nem o Dalai Lama deveria consentir em ser tratado como um artista de circo nem os budistas têm o direito de se marimbar positivamente para o resto da humanidade. Quanto ao mais, encantados da vida, realmente o budismo não faz - como o Melhoral - nem bem nem mal.
Existe de facto uma fractura (exposta) entre os fatalistas e os... outros.
Quanto ao circo em torno do Dalai Lama, com tuna e tudo, estou completamente de acordo. Creio que, por um lado, poderá ter o objectivo de chamar a atenção para a causa da independência do Tibete, independentemente de resultar ou não; por outro, não estará alheia uma esteticazinha tibetana-ocidentalizada que a alguns de nós poderá soar a gosto piroso.
Não creio que, quem procure a salvação, a encontre numa conferência, seja lá de quem for, a não ser que se trate de uma pessoa habituada a encontrá-la em todo lado, até mesmo nas pedras da calçada.. Não creio também que seja esse o objectivo das conferências de S.S.
Quanto à característica "melhoral" do budismo, apetece-me contrapô-la com a "Nimesulida" católica: se ""os benefícios são superiores aos riscos, é necessário limitar a duração da utilização e restringir o seu uso de forma a minimizar os riscos para o doente".
Pertenço à tuna académica (Tuna de Enfermagem de Lisboa) que teve o privilégio de tocar para Dalai Lama, mas infelizmente não pude estar presente nesse grande momento. Ainda assim, e perante o comentário aqui exposto por JPG “ (abrilhantada, ó horror dos horrores, por uma tuna”) queria transmitir o seguinte:
Fomos abordados pela Comitiva de Sua Santidade, o Dalai Lama na véspera da actuação no Pavilhão Atlântico, á saída da primeira actuação que tivemos este ano lectivo…Um acaso muito feliz, que nos possibilitaria contactar com este senhor, que segundo nos foi dito “aprecia tunas”.
A Tuna de Enfermagem de Lisboa (que saliento, estava bastante desfalcada) cantou e tocou de alma e coração num momento que foi inesquecível para quem lá esteve. Quanto à escolha do reportório foi a possível dada as diversas circunstâncias, entre as quais, os poucos microfones existentes em palco. Corremos muitos riscos uma vez que actuámos para uma público bastante diversificado, certamente pouco habituado e pouco interessado “nisto” das tunas.
A vida é assim menos, mas mesmo correndo riscos é sempre melhor viver momentos inesquecíveis…e este foi, com certeza, uma bênção.
Um sorriso*
Milene “Marlénnium” Lima
Se porventura, nos quiser conhecer um pouco melhor, visite: www.tel.pt.vu
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