O meu 10 de Junho
É insultuoso para qualquer patriota, mesmo moderado (e eu sou moderadíssimo), que se utilize a simbologia do Dia de Portugal para celebrar os feitos da habitual cáfila de políticos em pré-reforma, em evocação solene dos tempos em que, alegres como pardais, na pujança máxima, sugavam o país como uns azeiteiros (eles) e umas relaxadas (elas). Compreende-se a lógica: os de hoje condecoram os de ontem na perspectiva de serem eles mesmos condecorados amanhã. Seria perfeitamente inócuo se não fosse obsceno, dado o simbolismo da data.
Por mim, só se exaltava (sem condecorações, berloques, fitinhas ou caricas) o labor anónimo de centenas de professores que, por escolas «problemáticas» por esse país fora, continuam a combater o único e último combate pela preservação de um mínimo de coesão e de decência naquilo que outrora se designava por «nação» (e hoje parece merecer o qualificativo desdenhoso de «este país»).
Ainda há pouco passava mais uma reportagem na TV sobre algumas dessas escolas «problemáticas» na periferia de Lisboa. O que se viu arrepiava. Vivê-lo reclama heroísmo. Se restasse um pingo de decência colectiva, o país vergar-se-ia numa vénia solene e emudecida perante esse grupo de combatentes anónimos que só não são exaltados porque não têm sangue nem dinheiro nas mãos, mas deviam sê-lo porque têm nas mãos, antes, a última hipótese de redenção nacional, o barro ainda dúctil de alguns dos nossos jovens.
De alguns, sim, mas é preciso que as mãos sejam virtuosas, coisa que apenas a alguns é concedido ter, em todas as artes e em todos os ofícios. Acrescentaria ainda que, a haver essa coisa esquisita que dá pelo absurdo nome de "Professor do Ano", era nestes estabelecimentos problemáticos que a escolha deveria ser feita. E não mais se colocariam escolas de meninos-bem onde se fazem rigorosas triagens nas matrículas, tendo como base as notas dos candidatos, as bolsas dos progenitores ou os apelidos de família, nos píncaros do ranking nacional das escolas.
Este também é o meu 10 de Junho.
É insultuoso para qualquer patriota, mesmo moderado (e eu sou moderadíssimo), que se utilize a simbologia do Dia de Portugal para celebrar os feitos da habitual cáfila de políticos em pré-reforma, em evocação solene dos tempos em que, alegres como pardais, na pujança máxima, sugavam o país como uns azeiteiros (eles) e umas relaxadas (elas). Compreende-se a lógica: os de hoje condecoram os de ontem na perspectiva de serem eles mesmos condecorados amanhã. Seria perfeitamente inócuo se não fosse obsceno, dado o simbolismo da data.
Por mim, só se exaltava (sem condecorações, berloques, fitinhas ou caricas) o labor anónimo de centenas de professores que, por escolas «problemáticas» por esse país fora, continuam a combater o único e último combate pela preservação de um mínimo de coesão e de decência naquilo que outrora se designava por «nação» (e hoje parece merecer o qualificativo desdenhoso de «este país»).
Ainda há pouco passava mais uma reportagem na TV sobre algumas dessas escolas «problemáticas» na periferia de Lisboa. O que se viu arrepiava. Vivê-lo reclama heroísmo. Se restasse um pingo de decência colectiva, o país vergar-se-ia numa vénia solene e emudecida perante esse grupo de combatentes anónimos que só não são exaltados porque não têm sangue nem dinheiro nas mãos, mas deviam sê-lo porque têm nas mãos, antes, a última hipótese de redenção nacional, o barro ainda dúctil de alguns dos nossos jovens.
De alguns, sim, mas é preciso que as mãos sejam virtuosas, coisa que apenas a alguns é concedido ter, em todas as artes e em todos os ofícios. Acrescentaria ainda que, a haver essa coisa esquisita que dá pelo absurdo nome de "Professor do Ano", era nestes estabelecimentos problemáticos que a escolha deveria ser feita. E não mais se colocariam escolas de meninos-bem onde se fazem rigorosas triagens nas matrículas, tendo como base as notas dos candidatos, as bolsas dos progenitores ou os apelidos de família, nos píncaros do ranking nacional das escolas.
Este também é o meu 10 de Junho.
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